Aforismos temáticos (novo verbete): “O Desejo” segundo Cioran

Cumpre alertar o leitor que os aforismos e fragmentos aqui reunidos não puderam, em sua totalidade (por razões práticas envolvendo a equação tempo-produtividade), ser traduzidos com todo o cuidado que mereceriam (o que implicaria um longo e árduo trabalho). Muitos deles estão vertidos ao português de maneira provisória, de maneira não minuciosa (erros de ortografia, entre outros, podem acontecer), sem o devido rigor tradutório (algumas passagens traduzidas indiretamente de outros idiomas), o que se justifica pelo fato de que esta seção não pretende servir como uma fonte definitiva de consulta/citação dos escritos de Cioran, mas apenas como um conjunto de amostras das ocorrências mais significativas a respeito dos temas diversos que ocupam os seus pensamentos. Por isso ressaltamos junto ao leitor a necessidade de ter em mente o caráter inoficial, e muitas vezes falível (impreciso, inexato) de determinados termos presentes nas traduções aqui contidas. Salvo no caso dos títulos já publicados no Brasil, recomenda-se, para uma consulta/citação mais rigorosa dos respectivos textos (indicados pelos títulos dos livros, em ordem cronológica), ir direto à fonte original (seus escritos em romeno e em francês).

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Há uma vulgaridade [vulgarité] que nos faz admitir qualquer coisa deste mundo, mas que não é bastante poderosa para nos fazer admitir o mundo mesmo. Assim, podemos suportar os males da vida repudiando a Vida, deixar-nos arrastar pelas efusões do desejo rejeitando o Desejo. No assentimento à existência há uma espécie de baixeza, à qual escapamos graças a nossos orgulhos e a nossos pesares [regrets], mas sobretudo graças à melancolia que nos preserva de um deslize para uma afirmação final, arrancada de nossa covardia. Há coisa mais vil do que dizer sim ao mundo? E, no entanto, multiplicamos sem cessar esse consentimento, essa trivial repetição, esse juramento de fidelidade à vida, negado somente por tudo o que em nós recusa a vulgaridade.(“Dualidade”, Breviário de decomposição)

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Cada desejo humilha a soma de nossas verdades e obriga-nos a reconsiderar nossas negações. Sofremos uma derrota na prática; no entanto, nossos princípios permanecem inalteráveis. Esperávamos não ser mais filhos deste mundo e eis-nos aqui submetidos aos apetitas como ascetas equívocos, donos do tempo e escravos das glândulas. Mas este jogo não tem limites: cada um de nossos desejos recria o mundo e cada um dos nossos pensamentos o aniquila… (“Cosmogonia do desejo”, Breviário de decomposição)

§

Cedo ou tarde, cada desejo deve encontrar seu cansaço: sua verdade… (Silogismos da amargura)

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Incurável: adjetivo honorífico do qual só se deveria beneficiar uma única doença, a mais terrível de todas: o Desejo. (Le mauvais démiurge)

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O ceticismo é um exercício de desfascinação. Tudo se reduz, em suma, ao desejo ou à ausência de desejo. O resto é matiz. (Le mauvais démiurge)

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