“A liquidação tecnológica da palavra está em marcha”: Matéi Visniec no Brasil

Autor romeno naturalizado francês realizará palestras neste domingo em Porto Alegre dentro do 9º Festival de Inverno

Por Fábio Prikladnicki – Porto Alegre, Zero Hora, 27/07/2017

Se a tarefa de um dramaturgo é responder às grandes questões de seu tempo, o romeno naturalizado francês Matéi Visniec pode se dar por satisfeito. Sua mais recente peça publicada no Brasil, Migraaaantes, é inspirada na muito atual tragédia dos refugiados. Seus textos reescrevem a história e recuperam grandes personagens da cultura e da intelectualidade em uma chave não realista que muitos identificam com o teatro do absurdo. Visniec estará em Porto Alegre para realizar a palestra Teatro e Jornalismo: Tentativas de Compreender o Mundo, na qual abordará a relação entre sua vivência na imprensa e a criação teatral. Será neste domingo (30/7), às 15h, na Sala Álvaro Moreyra (Erico Verissimo, 307), com entrada franca, dentro da programação do 9º Festival de Inverno, que vai até quarta-feira (veja detalhes no roteiro da página 8). Leia, a seguir, a entrevista concedida pelo autor a Zero Hora por e-mail.

Migraaaantes trata de um tema bastante atual. Poderia comentar quais foram suas inspirações para escrevê-la? E você acredita que o dramaturgo tem o compromisso de abordar as grandes questões de seu tempo?
A Europa está sacudida neste momento pelo fenômeno da imigração. Trata-se de um movimento massivo de populações que batem às portas da Europa para escapar da guerra, dos massacres, das perseguições de todo tipo, do subdesenvolvimento, da miséria material (e por vezes cultural e sexual), da fome, das mudanças climáticas catastróficas. As migrações tornaram-se um fenômeno duradouro. Nada poderá parar essas milhões de pessoas em busca de dignidade e de uma vida melhor. Isso é fato, é uma constatação de todos os especialistas e da mídia. A questão agora está ligada às mudanças políticas, culturais, identitárias, sociais e de outras naturezas que esses movimentos vão gerar. O debate é rico, suscita polêmicas, engendra reações de fechamento e de medo. Uma coisa é certa: nada será como antes. As migrações são sinais de um mundo em mudança. Creio que o olhar do artista é importante na compreensão do que está ocorrendo. Todo mundo deve participar desse debate, deve esforçar-se para compreender o que está acontecendo à humanidade: os políticos, os sociólogos, os historiadores, os jornalistas, os especialistas em geopolítica, os pesquisadores, os cientistas, os climatólogos, os economistas. Nesse contexto de brainstorming, a voz dos artistas é importante, ela é mesmo peculiar. O teatro pode também participar desse debate, pois atrás do fenômeno das migrações se escondem dramas individuais e coletivos assustadores, tráficos de todos os tipos e redes de explorações infernais, escolhas políticas discutíveis do lado das grandes potências e formas de indiferença condenáveis… (leia a entrevista na íntegra aqui)

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