“O demônio da obstinação” (Edgar Allan Poe)

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Debruçamo-nos sobre a borda de um precipício. Fitamos o abismo — sentimos náusea e vertigem. O primeiro impulso é afastar-se do perigo. Mas, sem saber por quê, permanecemos lá. Aos poucos, náuseas e vertigem fundem-se em uma nuvem de sentimentos inomináveis. Lentamente, de modo ainda menos perceptível, a nuvem assume uma forma, tal como a fumaça de onde o gênio emergia nas Mil e uma noites. as de nossa nuvem, à borda do precipício, surge algo palpável, uma forma, muito mais terrível que os gênios ou demônios das fábulas, que, contudo, nada mais é do que um pensamento, ainda que seja um pensamento que instila pavor e nos enregela os ossos com a força deleitosa de seu horror. é a mera ideia do que sentiríamos ao nos precipitar daquela altura. E esta queda — esta aniquilação veloz –, justamente por envolver aquela que é a imagem mais horrenda e deplorável de todas as imagens horrendas e deploráveis da morte e do sofrimento que jamais se apresentaram às nossas consciências — justamente por esse motivo nós agora a desejamos com avidez. E, uma vez que o juízo luta para nos afastar da beirada, empenhamos todo nosso ímpeto em aproximarmo-nos do vazio. Não há, em toda natureza, arrebatamento mais impaciente que o de alguém que, tremendo à beira do precipício, medita sobre a Queda. Entregar-se, por um momento que seja, ao pensamento é estar perdido para sempre; pois a reflexão tenta nos dissuadir, e não e outro o motivo que nos incita. Se não houver um braço amigo para deter-nos, ou se não logramos afastar-nos do abismo, o impulso e a queda terminam por nos destruir.

POE, Edgar Allan, “O demônio da obstinação”, in O Gato Preto e Outros Contos. Trad. Guilherme da Silva Braga. São Paulo: Hedra, 2011.

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