Aforismos de Mounir Ammar, escritor tunisiano

O Portal EMCioran/Br tem a honra de apresentar aos leitores alguns fragmentos da obra de Mounir Ammar, cujo pseudônimo de escritor é (منير عمّار ( المدعشر , ou Al Moda3char, transliterado em caracteres latinos. Ammar é um escritor tunisiano e leitor assíduo de Cioran e, como o romeno, radicado na França. Em suas próprias palavras, “uma obra que certamente não teria existido caso não tivesse não apenas lido Cioran, mas bebido e re-bebido, e ingurgitado de maneira desmedida, a lucidez tingida de humor negro e de cinismo do nosso autor oriundo dos Cárpatos.” Curiosidade: o pseudônimo de Mounir Ammar alude, a título de homenagem, a um poema árabe “infinitamente misterioso e incompreensível, do qual não se conhece nem o autor nem a história”, e que teria supostamente sido escrito na Andaluzia, no século XI, no intuito de criticar a poesia da época “que não passava de um encadeamento de rimas sem nenhuma profundidade”, explica o autor.

Os fragmentos a seguir podem ser lidos como um exemplo emblemático da riqueza espiritual e literária da Tunísia, uma riqueza que, não obstante intimamente arraigada no solo natal do autor, alça voo em direção à universalidade de pensamento que é característica do que há de melhor em literatura.

*   *   *

A única razão séria para continuar vivendo apesar de tudo, para um desesperado, é a incapacidade de adivinhar o que o futuro pode trazer.
É esse tipo de dúvida que se pode chamar de dúvida salvadora!

[La seule raison sérieuse pour continuer à vivre malgré tout, pour un désespéré, c’est l’incapacité à deviner ce que peut charrier l’avenir.
C’est ce type de doute qu’on peut appeler doute salvateur !]

§

Nada está verdadeiramente perdido, nem a perder, para aquele que não faz do ‘ganho’ sua principal fonte de motivação!

[Rien n’est vraiment perdu, ni à perdre, pour celui qui ne fait pas de la « gagne » sa principale source de motivation !]

§

Onde poderia eu encontrar a ‘dita’ tranquilidade, eu que tomei por únicos mestres o vento, as ondas e as chamas! E como poderia eu encontrar a ‘dita’ serenidade, eu que tomei a loucura como ingrediente de minha sabedoria!

[Où pourrais-je trouver « la soi-disant » tranquillité, moi qui avais pris pour seuls maîtres le vent, les vagues et les flammes ! Et comment pourrais-je trouver « la soi-disant » sérénité, moi qui avais pris la folie comme ingrédient de ma sagesse !]

§

Somos todos iguais ao nascer: um pedaço de carne vindo ao mundo sem nenhuma consciência; pura matéria nascente. Somos todos iguais perante a morte: um corpo, uma alma, uma consciência, um espírito, e tudo o que se pode inventar para se dizer superior à matéria, retorna ao estado de pura matéria inerte. Mas sobre essa ponte de palha entre dois nadas que é a vida, apenas nossa ingenuidade nos faz vislumbrar uma possibilidade de igualdade e de justiça.

[On est tous égaux à la naissance : un bout de chair venant au monde sans aucune conscience; pure matière naissante. On est tous égaux face à la mort : un corps, une âme, une conscience, un esprit, et tous ce qu’on peut inventer pour se dire supérieur à la matière, revient à l’état de pure matière inerte. Mais sur ce pont de paille entre deux néants qu’est la vie, seule notre naïveté nous fait miroiter une possibilité d’égalité et de justice.]

§

Onde poderia eu encontrar a dita “tranquilidade”, eu que tomei por únicos mestres o vento, as ondas e as chamas! E como poderia eu encontrar a dita “serenidade”, eu que tomei a loucura como ingrediente de minha sabedoria!

[Où pourrais-je trouver « la soi-disant » tranquillité, moi qui avais pris pour seuls maîtres le vent, les vagues et les flammes ! Et comment pourrais-je trouver « la soi-disant » sérénité, moi qui avais pris la folie comme ingrédient de ma sagesse !]

§

Todos nós remamos a buscar
uma solução perfeita para o problema

do sentido da vida,
do sentido da existência,
do sentido de todas as coisas que contam,
Nós a buscamos, ademais,
em todos os sentidos,
à esquerda e à direita,
adiante e atrás,
acima e embaixo,
no centro e alhures,
mas não temos chance alguma
de encontrá-la fora
de nossa imperfeição,
de onde não ser nem solução,
muito menos perfeita.

Quanto ao sentido da vida,
da existência mesma,
de tudo o que vem ao mundo,
é insensato pensar
que ele possa existir!

[Nous ramons tous à chercher 
Une solution parfaite au problème 
Du sens de la vie, 
Du sens de l’existence, 
Du sens de toute chose qui compte, 
Nous la cherchons d’ailleurs 
Dans tous les sens, 
à droite, à gauche, 
Devant, derrière, 
En haut, en bas, 
Au centre, et ailleurs, 
Mais nous n’avons aucune chance 
De la trouver en dehors 
De notre imperfection, 
Et par là même, 
Elle n’est ni solution, ni parfaite. 

Quand au sens lui-même de la vie, 
De l’existence, 
De toute chose qui vient au monde, 
Il est insensé de penser 
Qu’il puisse exister !]

*   *   *

Fragmentos traduzidos e publicados com a devida autorização de Mounir Ammar [[email protected]]

Rodrigo I. R. S. Menezes, São Paulo, 13/04/2014

Anúncios