Albert Camus escreveu que o suicídio era um “problema filosófico verdadeiramente sério”. Conheça a visão de pensadores como Emil Cioran, Santo Tomás de Aquino e Jean-Jacques Rousseau sobre esse tema tão delicado e controverso
por José Fernandes Pires Júnior, graduado em Filosofia, bacharelando em Direito e professor de Filosofia da rede de ensino público do Distrito Federal.
Artigo publicado na revista Filosofia – Conhecimento Prático [site]
“Por que vivo, quem sou, o que sou, quem me leva? Que serei para morte? Para vida o que sou?[…] Cerca-me o mistério, a ilusão e a descrença.[…] Ó meu pavor de ser, nada há que te vença! a vida como a morte é o mesmo mal!” Fernando Pessoa, 14/09/1919
“Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio”. É-nos suficiente essa afirmação de Albert Camus para se mensurar quão delicado e complexo é esse problema. A declaração de Camus está registrada num ensaio de 1942, O Mito de Sísifo. Trataremos, aqui, neste trabalho – sem nenhuma pretensão de haurir o tema – sobre a questão da morte voluntária, no dizer do grego antigo. De antemão, faz-se necessário dizer que nosso olhar voltar-se-á, tão somente, à Filosofia; assim, deixaremos à parte o enfoque jurídico, sociológico e antropológico que enseja, também, a questão. Registre-se, logo de pronto, que não se tem por escopo qualquer apologia ao delicado problema, apenas busca-se sua abordagem e a tentativa de iniciar uma possível compreensão. O além disso é fruto da engenhosidade e perspicácia do amigo leitor.
Emil Cioran e o flerte com o suicídio
“Por que eu não me mato?” – indagou o filósofo a Emil Cioran (1911-1995), que apesar disso não se suicidou, mas desejou fazê-lo muitas vezes. Questionamentos como esse são típicos da psicologia suicida. O enfrentamento da morte a pretexto de libertação, mais do que coragem, exige consciência de que tudo está perdido e não há mais saídas a garantir que a vida vale a pena ser vivida. Geralmente, os casos de suicídio são marcados por um traço peculiar: a solidão. Suicidas são, amiúde, solitários e dão adeus ao mundo mergulhados na solidão; se não é assim, vejamos como Cioran visualiza um cenário apropriado para a realização do ato, “quando levantamos em meio à noite buscando desesperadamente por uma derradeira explicação, mas ao constatar a nossa solidão, porque todos dormem, desistimos de nossa intenção, pois ‘como abandonar um mundo onde se pode ainda estar sozinho?” [texto integral]