Capitulação — O pessimista representa um paradoxo orgânico cujas contradições insuperáveis engendram uma profunda efervescência. Não há, pois, um paradoxo nessa mescla de depressões repetidas e de energia persistente? É evidente que as depressões acabam consumindo a energia e comprometendo a vitalidade. É impossível combatê-las definitivamente: o máximo que se pode fazer é ignorá-las temporariamente dedicando-se a uma ocupação constante ou a distrações diversas. Só uma vitalidade inquieta é suscetível de favorecer o paradoxo orgânico da negação. Torna-se pessimista — um pessimista demoníaco, elementar, bestial — unicamente quando a vida perde a batalha desesperada que trava contra as depressões. O destino torna-se para a consciência, então, uma versão do irreparável. (Pe Culmile Disperări)
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Quanto mais leio os pessimistas, mais aprecio a vida. Depois de ler Schopenhauer, me comporto como um noivo. Schopenhauer tem razão quando afirma que a vida não passa de um sonho. Mas incorre numa inconsequência grave quando, em vez de estimular as ilusões, desmascara-as fazendo crer que existe algo fora delas. Quem poderia suportar a vida se ela fosse real? Sendo um sonho, é uma mescla de encanto e de terror à qual sucumbimos. (Lacrimi şi Sfinţi)
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Uma horda de anjos ou de demônios me colocou na cabeça a coroa do tédio. Mas, dado o meu apego apaixonado ao mundo, o tédio não pode escurecer a firmeza das minhas esperanças inúteis.
O céu, e não a terra, foi o que me tornou «pessimista». A impotência de ser que sobrevem ao fato de pensar en Deus… (Amurgul Gîndurilor)
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No segredo dos moralistas – Quando enchemos todo o universo de tristeza, só nos resta, para reavivar o espírito, a alegria, a rara, a fulgurante alegria; e é quando já não esperamos mais que sofremos a fascinação da esperança: a Vida, presente oferecido aos vivos pelos obcecados da morte… Como a direção de nossos pensamentos não é a de nossos corações, cultivamos uma inclinação secreta por o que espezinhamos. Fulano grava o rangido da máquina do mundo: é que sonhou demais com as ressonâncias das abóbadas: não podendo ouvi-las, rebaixa-se a escutar apenas o tumulto que o rodeia. As frases amargas emanam de uma sensibilidade magoada, de uma delicadeza ferida. O veneno de um La Rochefoulcauld ou de um Chamfort foi a desforra que escolheram contra um mundo talhado para os brutos. Toda amargura esconde uma vingança e traduz-se em um sistema: o pessimismo, essa crueldade dos vencidos que não podem perdoar à vida haver frustrado sua expectativa. (Breviário de Decomposição)
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O pessimista deve inventar cada dia novas razões de existir: é uma vítima do “sentido” da vida. (Silogismos da Amargura)
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No pessimista, se combinam uma bondade ineficaz e uma maldade insatisfeita. (Silogismos da Amargura)
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Só se suicidam os otimistas, os otimistas que não conseguem mais sê-lo. Os outros, não tendo nenhuma razão para viver, por que a teriam para morrer? (Silogismos da Amargura)
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Quando queria despachar alguém, aquele velho filósofo o tachava de “pessimista”, como se o insultasse. Para ele, era pessimista qualquer um que sentisse aversão pela utopia. Assim, qualificava de infame todo inimigo de especismos. (Écartèlement)
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1º de março de 1964 – Depois de quase um ano vi apenas dois filmes terríveis: Mein Kampf e Les Animaux. Este último é destinado às «famílias»; na verdade, deveria ser proibido para todo mundo menos para os assassinos e os «pessimistas». A «vida» é pior do que tudo que se pode imaginar: é o pesadelo em estado permanente. Todos os seres estremecem, mesmo os leões. É horrível, horrível.
A piedade ainda é o que de melhor já se imaginou . (Cahiers)
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O pessimismo, como ademais o otimismo, é um sinal de desequilíbrio mental. (Cahiers)
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Há um «pessimismo romeno», ou antes um «medo de viver» nacional que eu herdei, indiscutivelmente. (Cahiers)
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Os pessimistas não têm razão: vista de longe, a vida não tem nada de trágico, ela só o é de perto, vista em detalhe. A visão de conjunto a torna inútil e cômica. E isso vale para nossa experiência íntima. (Cahiers)
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Não sou pessimista, eu amo este mundo horrível. (Cahiers)