1938-1941 – Em seus primeiros anos na França, Cioran segue enviando textos a serem publicados em periódicos romenos. Tendo se filiado ao Centro laico de albergues da juventude, abandona a Sorbonne para explorar o sul da França de bicicleta. Você pode ver um desses textos e buy poems desse autor, pois é muito difícil encontrar sua obra disponível gratuitamente. Paralelamente ao périplo em duas rodas, escreve (1938-1939) seu quinto livro em romeno, Amurgul gândurilor (“O crepúsculo do pensamento”), que será publicado em 1940, em Sibiu. Em 1939, retornará rapidamente à Romênia, para regularizar algumas documentações necessárias para sua permanência na França. Está claro que o projeto de doutorado era apenas um pretexto para ir embora, e que Cioran nunca esteve realmente determinado a concluir esse projeto. Tanto é que, em relatório sobre sua atividade universitária dos anos de 1938-1939 (atividade que nunca existiu), ele muda o objeto de sua tese, agora “a ideia do mal e do pecado em Nietzsche e Kierkegaard”. Graças a Vladimir Jankélévitch e Louis Lavelle, conseguirá renovar por duas vezes a bolsa, até perdê-la em 1940. Em maio deste ano, a situação política internacional começa a se acirrar em função do avanço das tropas alemãs e, em junho, assiste à entrada delas em Paris. Em setembro do mesmo ano, um golpe de estado em Bucareste: o marechal Ion Antonescu, com o apoio dos legionários, destitui o rei Carol II, assumindo provisoriamente o poder. Em seguida, Antonescu rompe com a Guarda de Ferro, que se insurge contra ele. Cioran é intimado a retornar à Romênia, voltando ao seu país pela segunda vez. Lá permanece até o começo de 1941, quando retornará a França.
1942-1949 – Cioran muda-se do hotel Marignan para o hotel Racine, na rua homônima. Tendo perdido a bolsa da Sorbonne, consegue uma nova bolsa de estudos, dessa vez na École roumaine de France de Fontenay-aux-Roses, fundada pelo historiador romeno Nicolae Iorga. Segue escrevendo em romeno, trabalhando em diferentes projetos ao mesmo tempo, e que só serão publicados postumamente: dois livros, Îndreptar pătimaş (“Breviário dos vencidos”) e Razne, além de um longo ensaio intitulado Despre Franţa (“Sobre a França”), no qual trata do tema tão baudelairiano da decadência. Neste período, passará a fazer aulas de inglês e de português, para ler Byron e Shelley, por um lado, e Antero de Quental, por outro. Frequenta a Biblioteca americana de Paris e a Biblioteca da Igreja romena ortodoxa de Paris.
Em 18 de novembro de 1942, conhecerá, na fila de um refeitório acadêmico, Simone Boué, que se tornará sua companheira até o final da vida. Publica, em 1943, seus dois primeiros artigos em francês, antes de abandonar definitivamente o idioma materno, ambos na revista Comoedia: “Mihail Eminescu” e Le dor ou la nostalgie”. No ano seguinte, a prisão de Benjamin Fondane (1944) e de sua irmã. Cioran, avisado pela esposa de Fondane, Geneviève, tenta intervir junto com Stéphane Lupasco e Jean Paulhan para libertá-los, mas só consegue a liberação de Fondane, que prefere seguir com sua irmã. Ambos serão mortos em Auschwitz em outubro de 1944. Neste mesmo ano, Cioran passará uma temporada no convento do padre dominicano Marie-Dominique Molinié, em Nancy. A partir de então, Cioran e Molinié manterão, durante pouco mais de um ano, uma longa correspondência epistolar, em que “o ceticismo atormento de um interroga a fé do outro”.
Estes são anos de dificuldade financeira, já que desde 1944 Cioran não tem mais nenhuma bolsa de estudos, precisando fazer traduções do inglês ao francês para se manter, além de receber alguma ajuda de amigos. Come em restaurantes universitários e tenta economizar o máximo que pode. Em 1946, Cioran providencia, com a ajuda de Boris Schlœzer, a publicação de um livro que Fondane havia escrito, mas não pôde publicar: Baudelaire ou l’expérience du gouffre, que aparecerá no ano seguinte. Ainda em 1946, em Offranville, vilarejo perto de Dieppe, onde Cioran e Simone costumavam passar os verões, ele tenta traduzir Mallarmé para o romeno. É então que se dará conta do absurdo da empreitada, tomando a decisão de romper com a língua materna para escrever apenas em francês. De volta a Paris, começa a trabalhar na primeira versão do Breviário de decomposição, inicialmente intitulado Exercices négatifs. Pelo livro, receberá, em 1950, o prêmio Rivarol para escritores estrangeiros de expressão francesa, tendo como jurados André Gide, Gabriel Marcel, Jean Paulhan, Jules Romains e Jules Supervieille, dentre outros. Cioran decide compartilhar o prêmio (à época, 50.000 francos) com seu amigo de origem russa-armênia Arthur Adamov, que também concorria. Muito embora esteja longe de ser um sucesso de vendas, o livro é muito bem recebido e aclamado pela crítica francesa. A propósito do Breviário, Maurice Naudeau exalta Cioran como “o profeta de nossa era”.
1950-1959 – Neste período, Cioran mora em quartos de hotéis baratos, comendo em refeitórios públicos ou universitários. Frequenta círculos intelectuais parisienses, num dos quais conhecerá um de seus futuros melhores amigos, Henri Michaux. Até então, tendo rompido administrativamente com a Romênia, e tampouco cidadão francês, possui apenas um passaporte Nansen: um certificado de identidade e de viagem concedido aos refugiados apátridas pela Sociedade das Nações, atual ONU. Publica textos em diversas revistas francesas. Ao longo desta década, viaja várias vezes à Espanha de bicicleta. Também visitará a Escócia, a Alemanha e a Itália. Em 1952, publicação de Silogismos da amargura, seu segundo livro em francês, bastante diferente, quanto ao estilo, do primeiro. Desta vez, um fiasco tanto de público quanto de crítica. Desanimado, Cioran pensa em renunciar à vida de escritor, e graças a Jean Paulhan, que lhe encomenda textos para a Nouvelle revue française, ele é “forçado” a seguir escrevendo. “Quando eu publiquei meu segundo livro, Silogismos da amargura, todos meus amigos, sem exceção, me disseram: ‘Você se comprometeu, é um livro insignificante, são boutades, não é sério.’ Só se falou dele na Elle, a revista de moda, e há um pequeno artigo em Combat, de meu amigo Guy Dumur […] E não é assim apenas não França, inclusive na Alemanha foram publicadas recentemente duas páginas sobre mim em um jornal de esquerda de Berlim, em que se referem a este livro e o artigo se intitula: ‘Nichts als Scheisse’ (Nada além de merda). (Risos.)”
Em 1953, publica seu primeiro artigo na N.R.F., a pedido de Jean Paulhan: “La fin du roman” (O fim do romance), em que Cioran qualifica Blanchot, ambiguamente, como “um dos raros contemporâneos a ter feito uma experiência original no interior e a partir da… literatura”. Em 1954, é convidado pela editora Plon para ser o diretor de uma coleção de filosofia: Chéminements (“Caminhos”), em que edita livros inéditos de Rudolf Kassner (Évocations et paraboles), José Ortega y Gasset (Le spectateur tenté), Lev Chestov (Les révélations de la mort) e Erwin Reisner (Métaphysique de la sexualité), dentre outros autores. Ainda em 1954, a Securitate, polícia secreta romena, abre um dossiê de investigação sobre Cioran e passa a monitorar suas atividades e trabalhos editoriais.
Em 1956, publicação de La tentation d’exister, que, contrariamente a Silogismos da amargura, é um livro “frondoso”, composto de ensaios e aforismos mais ou menos longos (como o Breviário). Será o primeiro livro de Cioran traduzido em inglês e publicado nos Estados Unidos, com prefácio de Susan Sontag. No mesmo ano, conhece Samuel Beckett (“Sam”), com quem desenvolverá uma longa e fecunda amizade. Em 1957, morre o pai de Cioran, e o amigo de Cioran, o filósofo Constantin Noica é preso na Romênia junto com mais 22 intelectuais, acusados de ler e divulgar La tentation d’exister, proibido no país em ascensão rumo ao comunismo. No mesmo ano, o autor recusa o prêmio Saint-Beuve oferecido a La tentation d’exister. Em 1958, matricula-se nos cursos de Henri-Charles Puech sobre gnosticismo no Collège de France. Em 1959, mais textos publicados na N.R.F.
1960 – Publicação, em maio, de História e utopia, assim como o anterior, um livro eminentemente ensaístico. Cioran, que vivia até então de hotel em hotel, já há 18 anos acompanhado de Simone Boué, consegue, graças a uma leitora do ramo imobiliário, alugar na Rue l’Odéon, no. 21, uma mansarda (pequeníssimo apartamento de dois cômodos no último piso dos prédios, janela no telhado no formato de claraboia) por um valor acessível. Lá Cioran viverá pelo resto de sua vida. Essa década será marcada por uma contribuição regular à N.R.F., e também a outras revistas literárias.
1961-1995